O acervo do Instituto Burle Marx reúne uma diversidade de formatos, materiais e técnicas, totalizando mais de 120 mil itens em diferentes coleções.

O acervo abrange praticamente todos os projetos paisagísticos desenvolvidos pelo Escritório Burle Marx desde os anos 30 até os dias atuais (plantas de projeto, desenhos, croquis, guaches, maquetes), além de obras de arte e uma coleção documental que possui recortes de jornal desde a década de 30 até os anos 90, e ainda estão catalogadas correspondências, conferências, palestras, documentos, livros, fotografias impressas e cromos que perfazem um retrato sobre o urbanismo e paisagismo no século XX. São uma contribuição inestimável para se pensar as cidades, os espaços públicos, a relação com o meio ambiente, a diversidade da paisagem e da flora e a experiência estética inovadora.

Tais documentos são testemunhos de um trabalho coletivo e contínuo marcado por um compromisso estético e ético, que se reflete em propostas de criação de ambientes democráticos, de fruição artística e de bem-estar a partir da integração humana com a natureza.

Observa-se neste material documental uma preocupação constante de valorizar e ampliar o conhecimento sobre os biomas naturais brasileiros.

Ao longo de sua história, Burle Marx demonstrou verdadeiro fascínio pelas paisagens naturais, suas composições vegetais e pelas dinâmicas das relações entre os elementos naturais (vegetação, água, afloramentos rochosos, ar-ventos), que sempre o inspiraram na criação de jardins, parques e obras de arte. Um exemplo é o Sítio Burle Marx, sua residência e laboratório vivo, que abriga sua coleção botânica e de artes. Doado ao Estado brasileiro pelo próprio paisagista em 1985, o Sítio hoje é reconhecido como patrimônio mundial da humanidade e referência em todo o mundo.

Vale ressaltar também a atualidade do discurso público e ativismo ambiental de Burle Marx presente em todo o acervo, que priorizava questões ainda hoje prementes nos debates globais, como a devastação dos ecossistemas, a extinção de espécies botânicas nativas e a importância do paisagismo para a constituição de cidades mais verdes e favoráveis à contemplação e aos encontros.

Em artigos Burle Marx refletiu sobre arte; história do Brasil; sobre formas, usos e acessos ao espaço urbano; direitos, políticas públicas, transformações socioambientais, modelo de desenvolvimento e impacto na qualidade de vida das populações locais. Essa fala pública ao longo de sua trajetória, está registrada em inúmeras matérias de jornais, cartas, artigos e palestras pertencentes à este acervo.

Em relação aos projetos é interessante buscar entender como se deu o processo criativo e as escolhas que foram feitas através da observação dos croquis e primeiros desenhos até sua realização. Nos projetos arquivados destacam-se a dimensão artistica e humanista, expressas na clara intenção de propor a criação de espaços de convívio, prazer e descanso nas cidades. Espaços voltados à integração das paisagens urbanas e naturais, e a maior conexão entre habitantes, sempre sensível a suas experiências individuais e coletivas.

Ao longo de 7 décadas, observamos nos projetos uma diversidade temática, larga abrangência no território nacional e contribuições no cenário internacional, tanto na esfera privada, como na pública. Nos chamam atenção alguns projetos desenvolvidos para equipamentos públicos ligados à saúde, educação e lazer, indicando uma forte intenção de contribuir para mudanças na forma de vida da sociedade.

Burle Marx contribuiu assim, no seu tempo, e é hoje inspiração para uma visão de futuro de país e de humanidade, construída a partir de sua vivência estética potente e criativa, promovida por essa forma de arte que é o paisagismo.

O Instituto Burle Marx, como uma organização recente da sociedade civil sem fins lucrativos, tem como uma das prioridades para os próximos anos garantir - através de parcerias e apoios institucionais - a preservação de seu acervo e de sua futura disponibilização pública através de inventário, catalogação e digitalização.

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